O meu marido diz que essas coisas só as vejo eu, que só a mim me toca presenciá-las porque sempre estou procurando por elas. Pensei que, de alguma forma, tinha razão, pois certamente onde há crianças, por hábito adquirido em minha profissão, começo a observar suas condutas, mas esta semana, estando juntos meu esposo e...
NewsFilhos que agridem seus pais: 5 soluções para erradicar a violência pela raiz
O meu marido diz que essas coisas só as vejo eu, que só a mim me toca presenciá-las porque sempre estou procurando por elas. Pensei que, de alguma forma, tinha razão, pois certamente onde há crianças, por hábito adquirido em minha profissão, começo a observar suas condutas, mas esta semana, estando juntos meu esposo e eu na área de restaurantes de uma praça comercial, eu lhe disse: “observe a criança daquela mesa”, e diante dos nossos olhos e das muitas pessoas que ali estavam, pudemos ver com clareza o drama completo de uma mãe espancada pelo seu filho.
Foi uma cena extremamente vergonhosa e triste, para mim até irritante, pois, como se não fosse pouco, ali mesmo na mesma mesa estava o pai que simplesmente não fez nada para evitar a agressão a sua esposa. Os comensais das mesas vizinhas não podiam acreditar no que viam, e os gritos do menor fizeram com que muitos mais se inteirassem do que acontecia.
Na volta para casa, meu marido e eu comentávamos o que tínhamos visto, e a partir daí em outros lugares ele tem observado a mesma conduta em diferentes níveis e com diferentes matizes.
Filhos que gritam com seus pais, que os ofendem usando palavras duras e ásperas, que os ameaçam, humilham, ridicularizam e até os espancam.
No caso do shopping, o menino de aproximadamente nove ou dez anos estava muito chateado com sua mãe porque o hambúrguer que ela trouxe “tinha muito catchup”. Ele jogou fora o sanduíche, e quando a mãe lhe disse para não fazer isso, ele simplesmente esbofeteou-a duas vezes, e nem a mãe nem o pai o detiveram, limitaram-se a pedir-lhe que não o fizesse ali.
O menino levantou-se e saiu zangado para as escadas rolantes, o pai foi atrás dele caminhando lento e resignado, a mãe recolheu da mesa e o irmão mais novo, para ir atrás do marido limpando as suas lágrimas, que não sei se eram mais por dor ou por humilhação.
José Ubieto, psicanalista, assinala que estas situações não são excepcionais, embora ainda não seja uma epidemia, pois na Espanha isso representa somente entre três e sete por cento das situações familiares.
Também assinala, muito acertadamente, que a questão aqui é entender por que acontece, para agir e não simplesmente virar para o outro lado fingindo não ver o que acontece.
Características de filhos agressivos com seus pais
Javier Urra, psicólogo, dá uma lista de características sobre as crianças que violentam seus pais:
– Podem começar muito pequenos e a violência sai de controle na puberdade ou adolescência
– Seus pais podem ser pessoas bem-educadas e com graus acadêmicos altos
– Têm um bom nível social
– Os filhos não têm obrigações ou deveres
– Eles deixaram a escola ou estão indo muito mal
– Não praticam esportes
– Levantam-se tarde
– A mãe costuma ser a mais violentada
– São chantagistas sentimentais
– Não têm limites estabelecidos
– Não têm autodomínio
– Podem ser hedonistas-niilistas
– Podem ter aprendido a violência do pai
– Não negam ser violentos, ao contrário descrevem friamente seus atos, ou
– Culpam o pai /mãe de provocá-los.
A BBC menciona o primeiro estudo europeu sobre o tema em 2013, elaborado pela Universidade de Brighton, onde Paula Wilcox, pesquisadora do estudo, diz que “os pais vivem com medo, mas o tema ainda é tabu”.
O estudo declara que este é um problema social próprio do século atual, pois grande parte do problema costuma ser que a família não tem um conceito claro da autoridade e seu sistema disciplinar ou de limites é permissivo, são mais amigos que pais, e criam “adolescentes caprichosos que não toleram a frustração”. Um adolescente a quem é preciso dizer sim a tudo, vive o presente e “surta” se este não lhe agrada.
A falta de limites gera angústia e ansiedade
Nenhuma criança deve ser autorizada a usar violência física contra qualquer pessoa ou animal, muito menos exercê-la em relação aos seus pais.
Prevenção
Educar os filhos com limites claros e esforçar-nos todos os dias por eles em idades precoces tornou-se uma necessidade imperante, o mesmo que criá-los no respeito e no amor. Abaixo eu compartilho algumas boas estratégias para implementar hoje mesmo em casa com seus filhos independentemente de suas idades
1 Identificação e gestão de emoções
Faz-nos a todos muito bem saber o que são as emoções e identificá-las para podermos atuar de forma funcional no nosso ambiente. As crianças hoje mais do que nunca exigem que lhes ensinemos pelo exemplo e ajuda-las a reconhecer as palavras que nomeiam as emoções.
As crianças devem ver como nós processamos os eventos que nos fazem zangar ou sentir frustração, e então poderão imitar e reagir de maneira mais favorável.
2 Privilegiar o diálogo diante de qualquer situação
Nosso lar é o melhor refúgio para incentivar e capacitar seus integrantes a se expressar, argumentar, poder escutar a outros, buscar soluções e ser respeitosos ante ideias distintas.
Leva um tempo para sentar em família e discutir juntos as coisas que acontecem, os desafios, as alegrias e tudo aquilo onde a família possa opinar e ser ouvida.
3 Ser um exemplo de autodomínio e respeito
Se a família – e especialmente o pai – são violentos, a criança em formação e o adolescente sem limites replicarão estas condutas diretamente sobre os mais vulneráveis do lar: a mãe, irmãos menores ou animais de estimação.
4 Ser respeitoso e atencioso para com a mãe
A mãe costuma ser o primeiro flanco fraco na casa, inclusive antes dos filhos, daí que o pai, sendo a figura de autoridade, deve dar o exemplo de respeito e consideração pela mãe e, portanto, todos os demais estão implicitamente obrigados a fazer o mesmo.
5 Estar atentos a qualquer expressão de violência dentro do lar
Os videogames, programas de TV, desenhos, inclusive outros familiares ou companheiros de escola, podem ser a origem, exemplo e ensino do uso e normalização da violência como forma cotidiana de relacionar-se. Não o permita, fique alerta.
É importante prevenir a violência doméstica em todas as suas facetas, evitá-la e, sobretudo, erradicá-la nos nossos lares.
Fonte: Familia.com.br